Comportamento alimentar e isolamento social, qual a relação?
Antes de entrar no tema comportamento alimentar é importante refletir sobre o que é e quais as consequências de um isolamento social.
Estar isolado socialmente, por força maior, condição que se pode viver em uma guerra, uma pandemia e até em uma situação de toque de recolher devido a violência urbana, infringe uma condição não natural aos indivíduos, que pode gerar um aumento do estresse prolongado, da ansiedade, do medo, da solidão, que pode influenciar no abandono total ou parcial das rotinas diárias, na diminuição da atividade física, na dificuldade de realização de compromissos, nas buscas incessantes de conforto e reconforto.
Toda essa condição pode desencadear alterações hormonais, metabólicas, comportamentais e emocionais, que através de complexas cascatas fisiológicas, poderá impactar negativamente a saúde e o equilíbrio do ser.
É sob condições adversas que a capacidade de resiliência é posta a prova, adaptar, reformular e reprogramar é fundamental.
O comportamento alimentar em condições estressantes, para indivíduos com maior pré-disposição, pode sofrer mudanças, influenciadas pelas alterações fisiológicas e emocionais. Alguns indivíduos aumentam o consumo de produtos industrializados, buscam mais por alimentos ricos em carboidratos simples e gorduras, pelo conforto imediato que causam, liberam o consumo a toda hora, o que pode prejudicar a sensibilidade da percepção entre a fome fisiológica e emocional, ganham peso pelo aumento e diferenciação do tecido adiposo, o que potencializa processos inflamatórios, podendo causar prejuízos até mesmo ao microbioma intestinal. E devido as repercussões fisiológicas em cascata desses comportamentos, pode-se desenvolver uma resistência periférica à insulina, alterando ainda mais os processos inflamatórios, gerando um ciclo vicioso.
Nesta situação é fundamental se auto avaliar para poder perceber as ações que podem estar contribuindo para sua infelicidade e comprometendo sua saúde de forma integral. Feito isto, desenhar novas rotinas, modificar algumas existentes e adaptar outras é uma condição sine qua non.
E a rotina alimentar é parte essencial desse processo. Comece pela organização dos horários de refeições seus ou de toda família, se estiver vivenciando esse momento com ela. Foque na importância da alimentação natural, no consumo de refeições de verdade, busque sempre que possível cozinhar em casa ou quando impossibilitado, fazer as melhores escolhas.
Para que esta rotina alimentar aconteça é fundamental planejar. Desta forma fica fácil saber o que comprar e poder se desapegar dos alimentos ultraprocessados, dos temperos industrializados, do exagero dos “fast foods, que potencializam imensamente toda condição inflamatória. Inicie este processo pela inclusão e verá que a exclusão ocorrerá de forma natural. Se não souber por onde começar, busque ajuda de um profissional, estude, inicie o mais rápido possível com o que tiver disponível.
O ato de nos alimentarmos é fundamental para nossa sobrevivência, mas ele transcende, nos dá prazer, satisfação, nos conforta e nos abraça, portanto, não se resume a adoção de uma dieta ou o consumo de alguns poucos alimentos “milagrosos” é mais amplo e a forma como nos relacionarmos com ele interfere e impacta de forma muito significativa na nossa saúde e qualidade de vida.
Aproveitar este momento de isolamento para desenvolver bons hábitos alimentares é uma estratégia muito inteligente e uma reação adaptativa à condição que se impõe, uma vez que proporcionará sair dela numa versão significativamente melhor, mais saudável e mais forte!