O consumo dos vegetais crucíferos podem atuar na prevenção do câncer?
Vegetais crucíferos ou brássicas inclui os brócolis, couve manteiga, couve de Bruxelas, repolho, couve flor, mostarda, rúcula, nabo, rabanete e o agrião. São importante fontes de glicosinolatos, um tipo de bioativo sulforado, fruto de metabólitos secundários destes vegetais, o que determina o aroma e o sabor tão característicos.
Os glicosinolatos precisam ser hidrolisados, ou seja, quebrados, um processo que ocorre nos próprios vegetais e na microbiota intestinal humana, para que possam assumir a forma ativa no corpo humano, como o sulforafano.
Estudos epidemiológicos sugerem que o consumo regular de brássicas pode estar associado a prevenção de vários tipos de câncer, especialmente o de estômago, cólon, pulmões e mama.
Uma revisão de 2012, que avaliou publicações caso-controle de 12.449 tipos de câncer (câncer da cavidade oral, esôfago, estômago, coloretal, fígado, pâncreas, laringe, mama, endométrio, ovário, próstata e rins) x 11.492 controles, revelou que o consumo de brássicas pelo menos 1 vez na semana teve efeito protetor, particularmente mais significativo para os casos de câncer do trato digestório superior, coloretal, mama e rins.
Parece que este efeito protetor ocorre pela eliminação dos resíduos carcinogênicos antes que danifiquem o DNA da célula ou por vias de sinalização, que previne contra a transformação de células saudáveis em carcinogênicas.
Alguns produtos da quebra destes glicosinolatos podem alterar a atividade de hormônios como o estrogênio, prevenindo contra alguns tipos de câncer hormônio-sensíveis, por exemplo de mama.
Em estudos in vitro verificou-se que alguns destes produtos possuem efeito indutor da morte de células de câncer de próstata, câncer de mama, câncer de pâncreas e células de câncer cervical, além de inibir o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese), diminuindo desta forma a velocidade de crescimento de células tumorais.
Como estes compostos são hidrossolúveis, estudos mostram que o cozimento em água por um tempo de 9 a 15 minutos reduz de 18 a 59% do total de glicosinolatos. Desta forma, o cozimento a vapor e em micro-ondas pode ser mais eficaz, por apresentar uma perda significativamente menor.
A recomendação de consumo é de 5 porções de ½ xícara, por semana destes vegetais, para se ter um efeito protetor contra os diversos tipos de câncer, acima descritos.
Mas até o presente momento, a recomendação é de que se consuma os alimentos fontes como a couve de Bruxelas, o agrião, a mostarda, o nabo, o repolho, a couve manteiga, o brócolis, o rabanete e a couve flor e não doses altas e isoladas via suplementação, pois pode interferir na síntese dos hormônios tireoidianos, por competir com o iodo pela captação da tireóide.
Logo, inserir brássicas na dieta, variando-as ao longo da semana parece estar associada a menores chances de desenvolvimento de diversos tipos de câncer.
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